Pelas minhas
contas seriam cinquenta e seis.
Hoje é
terça-feira, mas estava pronta para avisar lá na rádio que não iria, ou que
precisava de sair mais cedo. Não são todos os anos que se celebram cinquenta e
seis anos.
Agora que penso…
Talvez não fosse lá na rádio que teria de avisar: que acharias tu deste sonho
que agora concretizo? Não, eu também não teria de avisar lá no escritório de
advogados: há uns anos ter-me-ias dito para não estudar Direito, que era
demasiado criativa para me cingir a leis e demasiado nova para saber o que é o
justo e o injusto.
Hoje avisaria
que não iria ou que sairia mais cedo lá na biblioteca, no jardim, ou quem sabe
não tivesse de avisar absolutamente ninguém, porque para ti eu já seria tão senhora
de mim, que não havia ninguém a quem eu tivesse de prestar contas. Nos teus
sonhos (e quiçá nos meus), hoje avisaria este computador em que escrevo, as
personagens que invento e os capítulos que não terminarei.
Diria “vou ter
de ir, que o meu pai faz anos”, e as personagens sorririam, outras pediriam que
te mandasse um beijinho e as mais velhas que te desejasse saúde. Uma ou outra
frase podia ficar aborrecida, preterida pelo soprar das tuas velas e pelos meus
dedos a acarinharem-te o rosto ao invés de pressionarem freneticamente as
teclas, até elas nascerem e estarem sempre quase perfeitas (nunca perfeitas,
que isso não existe!).
Já ganhei mais
do que ganho hoje e, por isso, ainda não seria este o ano em que te ofereceria
um grande presente (ou talvez o fizesse com o dinheiro dos avós), mas estou
certa de que este seria o ano em que, à mesa, falaríamos de como todos os
outros passaram, e que felizes que foram, oh!, e os anos que virão… Mal podemos
esperar!
Seriam cinquenta
e seis. Tantos quantos os que terias vivido. Se me autorizassem, mandar-te-ia
um beijinho no ar e diria, já em off, que o meu pai é o maior. A minha voz iria
tremer um bocadinho (ainda não estou confortável com o microfone à frente, mas daria
o meu melhor para que não o notasses), e depois todos te cantaríamos os
parabéns. Sei que parece tolo, mas quando se ama assim muito uma pessoa, como
digo tantas vezes, “mais do que tudo no Mundo”, ser tolo faz-nos ter a certeza
de que nada fica por dizer; e que me achem tola, foi no meio da tolice que
cresci e me tornei quem sou hoje (seja lá o que isso for), eu gosto.
Hoje o meu pai
faria cinquenta e seis anos. Não tenho de sair mais cedo, e, a menos que
arranje uma desculpa, não tenho motivos para não aparecer lá na rádio; para
além disso, quero ir, porque sinto que é em dias como o de hoje que tenho de
lhe mostrar que estou a viver, e que faço exatamente aquilo que quero. No meio
da tolice, da liberdade, do amor, da fé.
O meu sentimento é o mesmo. Bora lá viver.
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