terça-feira, 16 de agosto de 2022

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Pelas minhas contas seriam cinquenta e seis.

Hoje é terça-feira, mas estava pronta para avisar lá na rádio que não iria, ou que precisava de sair mais cedo. Não são todos os anos que se celebram cinquenta e seis anos.

Agora que penso… Talvez não fosse lá na rádio que teria de avisar: que acharias tu deste sonho que agora concretizo? Não, eu também não teria de avisar lá no escritório de advogados: há uns anos ter-me-ias dito para não estudar Direito, que era demasiado criativa para me cingir a leis e demasiado nova para saber o que é o justo e o injusto.

Hoje avisaria que não iria ou que sairia mais cedo lá na biblioteca, no jardim, ou quem sabe não tivesse de avisar absolutamente ninguém, porque para ti eu já seria tão senhora de mim, que não havia ninguém a quem eu tivesse de prestar contas. Nos teus sonhos (e quiçá nos meus), hoje avisaria este computador em que escrevo, as personagens que invento e os capítulos que não terminarei.

Diria “vou ter de ir, que o meu pai faz anos”, e as personagens sorririam, outras pediriam que te mandasse um beijinho e as mais velhas que te desejasse saúde. Uma ou outra frase podia ficar aborrecida, preterida pelo soprar das tuas velas e pelos meus dedos a acarinharem-te o rosto ao invés de pressionarem freneticamente as teclas, até elas nascerem e estarem sempre quase perfeitas (nunca perfeitas, que isso não existe!).

Já ganhei mais do que ganho hoje e, por isso, ainda não seria este o ano em que te ofereceria um grande presente (ou talvez o fizesse com o dinheiro dos avós), mas estou certa de que este seria o ano em que, à mesa, falaríamos de como todos os outros passaram, e que felizes que foram, oh!, e os anos que virão… Mal podemos esperar!

Seriam cinquenta e seis. Tantos quantos os que terias vivido. Se me autorizassem, mandar-te-ia um beijinho no ar e diria, já em off, que o meu pai é o maior. A minha voz iria tremer um bocadinho (ainda não estou confortável com o microfone à frente, mas daria o meu melhor para que não o notasses), e depois todos te cantaríamos os parabéns. Sei que parece tolo, mas quando se ama assim muito uma pessoa, como digo tantas vezes, “mais do que tudo no Mundo”, ser tolo faz-nos ter a certeza de que nada fica por dizer; e que me achem tola, foi no meio da tolice que cresci e me tornei quem sou hoje (seja lá o que isso for), eu gosto.

Hoje o meu pai faria cinquenta e seis anos. Não tenho de sair mais cedo, e, a menos que arranje uma desculpa, não tenho motivos para não aparecer lá na rádio; para além disso, quero ir, porque sinto que é em dias como o de hoje que tenho de lhe mostrar que estou a viver, e que faço exatamente aquilo que quero. No meio da tolice, da liberdade, do amor, da fé.

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