As expetativas das outras pessoas dão-nos força, mas também nos retraem. Quando não nos conhecem, não esperam nada de nós, e tudo o que fazemos, por pior que seja, não as desilude. Quando sabem quem somos, quando já nos elogiaram, quando já nos disseram que conseguíamos fazer melhor, aí sim, esperam algo de nós. Que nos superemos, que cheguemos mais longe, que nos reinventemos. E cada passo que damos, cada coisa que fazemos, elas estarão lá, e serão cada vez mais críticas, cada vez mais exigentes. E esse medo de não nos superarmos, esse receio de não lhes darmos tanto quanto merecem, tanto nos incentiva como nos deixa sob luzes que não pedimos que nos encadeassem.
Hoje inicio o meu novo livro, reticente, sem grande confiança. Porque sei que esperam de mim aquilo que, apesar de acreditar ser possível, não posso prometer sem reticências. Que escreva sem parar, que seja rápida, que seja bom. Que aquilo que passe para o papel continue a fazer as outras pessoas rir, chorar, e, acima de tudo, sentir. Porque não escrevo para ter sucesso, já teria parado de o fazer há muito tempo se essa fosse a meta a alcançar, nem para ouvir que, de alguma maneira, o faço bem, mas porque preciso de sentir menos, com menor intensidade, e escrever faz-me sofrer menos, faz-me gritar menos, faz-me amar menos, quando o amor está prestes a sair-me do peito, porque nele já não cabe. Porque escrever exige que me silencie de todas as coisas que digo da boca para fora, e deixe voar aquelas que, por nada, digo a alguém. Porque escrever me faz refletir, reviver, e por mais que, por vezes, me magoe, deixa-me mais forte.
Deixar as palavras que me enchem a alma no papel, faz-me ficar mais leve, e por mais egoísta que seja ambicionar que, um dia, nada eu tenha que não sonhos, a verdade é que dar-vos aquilo que sou dá-me a oportunidade de, um dia, poder ser mais. A bagagem é importante, mas ter espaço para poder guardar coisas novas, é fulcral para quem não se contenta com aquilo que é, mais do que com aquilo que tem.
Tenho vontade de chegar cada vez mais longe, de abraçar cada vez mais pessoas que, como eu, procuram o conforto que precisam nas palavras dos seus iguais, que, pela diferença, nos agarram até à última página. Tenho vontade de escrever até que me doam os dedos, até que nada me reste para dizer, até que todas as personagens que me assombram o cérebro ganhem forma e sigam as suas vidas. Não posso prometer que o farei com a excelência que me é exigida, e que cada palavra vos vá tocar tanto como qualquer outra que já possa ter escrito, mas fá-lo-ei com o mesmo amor, este que cresce e me arrebata. Porque, no fundo, para lá de todas as vozes que possam dizer que já consegui, eu ainda estou a lutar pelo meu sonho, pelo sonho incrivelmente bonito e puro que é querer escrever para o resto da vida, assim, de modo despretensioso, sem esperar nada de vós, ansiando que também não esperem muito de mim.
Tal como foram os primeiros a saber que hoje iniciei esta jornada, também será convosco que partilharei o seu fim. Que esta necessidade desmedida de me libertar não finde, e que aquilo que, tantas vezes, apelidam de inspiração seja um rio que não seca, seja uma gargalhada que não tem fim, seja uma borboleta que, mais cedo ou mais tarde, brilhará fora do seu casulo. Que seja um caminho bonito, daqueles que fazemos sem medos, com os pés assentes no chão, mas com aquela sensação de que, se quiséssemos, os poderíamos sobrevoar só com o alento que nos dão ao percorrê-los.
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