terça-feira, 16 de agosto de 2016

Cinquenta anos, querido Pai.

Querido Pai,
Hoje era dia de festa, de porco no espeto, de prendas, de beijos. Era o dia em que a meia-noite era ansiada por mim e pela Carolina e que, mal chegava, te surpreendia a ti com canções, textos, carinho e desenhos. Era o dia em que a casa se enchia de família, de amigos, daquele barulho que tanto nos reconforta o coração e nos relembra de que não estamos sozinhos. Os copos estariam levantados, dir-se-ia que por ti tudo, e sem ti "nada, nada, nada", e, quase que posso apostar, seria um dia muito feliz, afinal, só se fazem 50 anos uma vez.
Infelizmente, não tiveste essa oportunidade, e não celebrámos hoje contigo meio século, porque a vida não to deixou viver. Ao invés de te abraçarmos à meia noite, e de passarmos o dia a passear ou a organizar uma festa, a mãe comprou um grande arranjo de flores brancas onde colocou uma fotografia do vosso casamento e as três, tal como sempre fazemos, fomos visitar-te ao cemitério. Não te cantámos os parabéns, e desculpa, mas não preparei com a Carolina nenhum teatro ou dança: ficámos simplesmente ali, a deixar a tua campa bonita como sempre está, em silêncio. Não imaginavas assim os teus cinquenta anos, pois não? E não é triste como a vida nos impede de concretizar os nossos planos, e nos afasta daqueles que mais amamos?  A verdade é que aí, no Céu, talvez tenha sido só mais um dia. Aqui também o foi, mas para nós foi um dia ainda mais triste, porque a revolta, Pai, a revolta... mói. Esmurra-me o estômago. Tira-me a fome. E a única coisa que me reconforta é lembrar-me de todos os aniversários que passámos juntos, e de todas as prendas que te dei, de todos os textos que te escrevi. A única coisa que me reconforta é saber que te amei e amarei com todas as minhas forças, tal como tu a mim, e que jamais nos abandonaremos.
Hoje fazias cinquenta anos. E há quase três anos, quando te vi pela última vez, eras lindo. Tenho a certeza de que nada mudou, e se aqui estivesses serias o cinquentão mais charmoso de Leiria, tal como eu, a mana e a mãe somos, para ti, as mulheres/meninas mais bonitas do Mundo.
Que a paz more no teu coração, e que vivas a morte com a mesma serenidade com que viveste a vida. Feliz aniversário, pai! Amamos-te muito! Hoje e sempre! Obrigada por nos teres deixado tanta coisa invisível aos olhos.
Muitos muitos parabéns, meu amado Pai. Continua a cuidar de nós e que contemos o teu aniversário por muitos e muitos anos, tantos até o celebrarmos aí, todos juntos.


1 comentário:

  1. Minha querida (permite-me que te trate assim), sinto um grande aperto no peito ao ler as tuas palavras. Talvez porque sei o que é a dor da perda e da saudade e porque temo ter de voltar a passar pelo mesmo com pessoas que amo. Mas simultaneamente guardo no coração e na memória a mensagem de força e superação que também se retira do que escreves. Tenho a certeza de que o teu querido pai se orgulha de ti e que diariamente recebe o teu amor, que o apazigua. A cada dia que passa é menos um que falta para se reencontrarem, e até lá segue o teu caminho tendo por base os valores do teu paizinho, sendo feliz e mantendo-o vivo nos teus pensamentos e no teu coração.
    Um abraço.
    CF.

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