quinta-feira, 28 de abril de 2016

Receios

Receio não te ter dito que te amava vezes suficientes, todas as vezes em que te amei. Receio não te ter mostrado o quanto te admirava, e em como eras, para mim, um porto seguro, onde o mar não tinha corrente, e onde a areia não tinha conchas partidas. Receio ter guardado para mim tantos agradecimentos, tantas palavras de conforto, de carinho, de amizade, de admiração, e receio ainda mais que, no meio de todos os meus silêncios, não me tenhas ouvido falar.
Escrevo muito. Tanto quanto te amo. E gostava de conseguir dizer-te tudo aquilo que escrevo, e que me enche o coração e a alma, e me faz sorrir e chorar, que me emociona, que me enfraquece quando não me faz mais forte, mas não consigo. E, por isso, hoje digo-to por aqui. Digo-te que te amei muitas mais vezes do que aquelas em que to segredei, e que não te dei tantos beijos quantos aqueles que os meus lábios queriam, e que também não te pedi perdão todas as vezes em que me senti arrependida.
Digo-te hoje, sem vergonhas, sem medos, mas com muitos receios. Com receio que não te tenha conseguido dar tudo o que merecias, com receio que não tenha sido tudo aquilo que esperavas. Porque eu erro, e quantas vezes errei, e provavelmente perdoaste-me primeiro que eu a mim própria. Porque eu avanço, recuo, estou presente, mas tantas vezes chamaste por mim sem resposta, porque sabes, eu sou um espírito livre, uma alma sem dono, e toda a minha imaginação, todos os meus sonhos, tudo aquilo que eu sou é indomável, é fogo, é vento. Gostava de te dizer que desta vez seria diferente, e que existe um sítio no Mundo onde eu quero estar, e onde te prometo ser como esperas que seja, e dar-te aquilo que me dás, mas eu não sei se to posso prometer, e se é justo que nós, que vivemos a flor da idade, dos sonhos, da esperança, nos prendamos a promessas. Porque a vida nem sempre cumpre aquilo que nos prometeu, e porque as pessoas mudam, e, mesmo que os sítios fiquem nos mesmos lugares, deixam de ser nossos, para ser de alguém, para não serem de ninguém.
Receio que não te tenha conseguido mostrar aquilo que de mais profundo e bonito sinto, e receio-o principalmente porque sei o quanto gostarias de conhecer este amor que nutro desenfreadamente por ti, receio porque to mo mostraste, e como foi bom sentir que me amavas e que, por mais tempestades, dias difíceis, ausências, to me ias sempre amar.
Hoje olho para ti e sinto uma paz que nem sempre me foi característica: sinto que, por mais anos que passem, tu serás sempre o meu lugar preferido onde, por mais tempo que esteja longe, serei recebida de braços abertos, disposto a ouvir-me, a acarinhar-me, a amar-me. Porque é isso que fazes de melhor, porque é isso que és de melhor.
Receio, que um dia, quando a vida passar, me vás esquecendo, e que percas o meu cheiro no meio de todos os outros, e não recordes mais os meus vícios, as minhas manhas, os nossos sonhos. Que a nossa história seja eterna, e que a pintemos das cores mais felizes que as nossas tintas, as nossas lágrimas, os nossos sorrisos, consigam. Porque todos estes receios são fruto de um amor que não dorme, não descansa, não acalma. Que a vida fosse só amar, e como seríamos nós felizes.

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