sábado, 29 de agosto de 2015

"Seremos o lugar onde tantas crianças sonham tocar (...)"

Na imensidão do céu, há sempre espaço para mais uma estrela. Por mais que ele se vá preenchendo, por mais que pareça que só existe lugar para mais uma, é surpreendente como se vão juntando e acumulando, uma a uma, por vezes em fila, outras vezes espalhadas por aquele mundo sem fim, onde o Homem tantas vezes já sonhou estar, mas onde, quando lá se encontra, se assusta e tem saudades de aqui estar. Todos nós um dia seremos estrelas, pequenas para quem nos vê como só mais uma numa noite iluminada, guias para aqueles que nos procurarão para reconfortarem os seus corações. Um dia todos nós partiremos, todos nós seremos estrelas cintilantes, à procura de um lugar no céu, tal como, durante a nossa vida inteira, procurámos um lugar na terra. A vida é feita de procura, da busca incessante: umas vezes com sucesso, outras vezes nunca encontramos aquilo que almejamos. Ter um lugar aqui, na terra, ou ali em cima, no céu, não depende só de nós, mas em muito está em nós: ser forte, ser crente, ser sonhador. Ter ambição e vontade e acreditarmos que alcançaremos tudo aquilo a que nos propusermos. Um dia faremos parte de uma constelação. Seremos o lugar onde tantas crianças sonham tocar quando nos vêem pelo telescópio, no sótão, e seremos, também, os ouvidos de todos aqueles que estão longe do seu amor, e que, na escuridão da noite, pedem-nos a nós, estrelas, que façamos com que a pessoa que mais amaram em vida, saiba que não a esquecem na morte. Quando todos nós formos estrelas, não haverá passado nem futuro, não haverá sonhos, nem desilusões. Estaremos ali, apenas ali, no céu, no escuro, escondidas ou cintilantes, entre as gotas da chuva, protegidas por uma nuvem maior, a criar os ambientes mais românticos ou a testemunhar as lágrimas mais sofridas.
Um dia, todos nós partiremos. Longe da pena, da saudade, do remediável, do reversível. Não seremos pó, não seremos lembranças, seremos estrelas. E brilharemos! Brilharemos como se não houvesse amanhã, até porque, para nós, estrelas, já não existem dias: somos apenas a noite. E, por mais que isso agora nos pareça distante, e nos faça ter medo, é o nosso destino, e temos de o aceitar com a mesma convicção com que uma árvore aceita ser despida no outono. Se anseia pelo momento em que todas as suas folhas partirão, e a deixarão ali, despida, desprotegida? Não. Mas sabe que esse momento vai chegar, e tem a serenidade e a quietude de o receber, como quem recebe o sol da primavera, e vê crescer em si bonitas flores ou saborosos frutos.


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