segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Encontrar-te de novo

Todos os dias me lembro do meu pai, da sua voz, da forma como fazia tudo para me ver sorrir. Aquele jeito tão dele de mostrar que me amava, as suas palavras sussurradas antes de eu adormecer e o volume do seu orgulho em relação a tudo o que eu fazia.
Um bom pai não é, nem nunca será, aquele que nos dá tudo o que queremos, mas sim aquele que, dentro do que alcançamos, nos ajuda a viver com todas as nossas experiências, boas e más, e nos educa, nos faz crescer e nos transmite valores que nos serão indispensáveis para sermos felizes. Com o passar do tempo, sinto-me cada vez mais em paz: estou a encontrar o meu pai em mim. “Finalmente”, penso.
As saudades não diminuem, mas o meu pai existiu, e, enquanto o pude tocar e sentir o seu abraço, sei que tive o melhor pai do Mundo e que, infelizmente, muitos, por mais anos que tenham os pais a seu lado, nunca sentirão a cumplicidade e o amor que eu e o meu pai tínhamos um com o outro.

Sei que não posso mudar o Mundo. Sempre o soube. Só que às vezes, neste caminho que percorro sozinha, à chuva, sinto-me fora de mim, sinto-me maior do que eu sou… e sonho. Sonho ter o meu pai de novo ao meu lado, não apenas em espírito, mas assim, agarradinho, junto ao meu peito, perto dos meus olhos. Sonho que nos voltamos a encontrar, e que é um encontro tão feliz, um encontro tão nosso. E como são bons os sonhos, e as saudades quando não nos arrancam o coração. Aprender a dominar as saudades é outro desafio… quase tão grande como o de mudar o Mundo. Não se aprende. Não se muda. Mas temos que viver com isso. Tenho que viver com isso. Perder o meu pai fez-me encontrá-lo de novo de uma forma que eu não acreditava poder encontrar alguém. Preferia encontrá-lo no jardim, como tantas vezes acontecia, sou sincera, mas encontro-o no meu coração, longe da visão, longe da possibilidade alucinante que é tocar-lhe outra vez. Mas já é tanto, já é tão bom, depois de tanto tempo sem o encontrar em lado algum.


1 comentário:

  1. Adoro ler o que escreves Francisca :) Tenho aprendido muito contigo, com as tuas duvidas e com as tuas certezas. Também aprendo muito com a tua Mãe, que eu soube sempre que é maravilhosa, mas a força dela é inspiradora. O amor da vossa família é maravilhoso e confesso-te que percebo quando dizes que encontras o teu Pai de uma outra forma, que o sentes contigo. Eu como amiga dele também sinto que a sua "viagem" nos deixou lições de vida que nos podem ajudar muito e que no meu caso jamais irei esquecer. Obrigada.
    M.J.Gameiro

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