Quando a trouxe para dentro, naquele primeiro dia, a primeira coisa que me disse foi que estava tudo bem. E sorriu. Agradeceu-me a hospitalidade e desmanchou-se em lágrimas. E, assim que o primeiro soluço se ouviu na nossa humilde casa de madeira, eu percebi que nunca tinha encontrado ninguém na minha vida, porque aquela era a única pessoa que me podia fazer feliz. Evoco, na minha mente, tudo como se fosse ontem: ela parecia não ter passado, porque tinha batido com a cabeça com muita força numa pedra enorme junto ao rio, que ainda hoje preserva um rasto imaculado do seu sangue, bem como guardara no seu corpo uma cicatriz na cabeça, mas, com o passar do tempo, ela foi reconstituindo a sua antiga vida. Eu sei disso, apesar de ela nunca mo ter dito. Gosto de pensar que o passado dela não era o que desejava, e que, o facto de a ter encontrado encostada àquela pedra, no meio de uma chuvada torrencial, com um golpe na cabeça e sem memória, foi obra do destino. Ela precisava de mim, e eu dela. Tal como agora. Nenhum de nós fala do que aconteceu antes das nossas vidas se cruzarem. Eu não lhe conto os pesadelos que tinha por viver sozinho naquela casa com os fantasmas dos meus pais, e ela não me fala sobre o facto de ter aparecido ali, sem qualquer explicação plausível. É como se as nossas vidas tivessem começado ali. Eu sou o Rodrigo, e ela é a Íris, e só nos temos um ao outro. Vivemos com aquilo que temos à nossa volta, numa pequena vila que talvez nem apareça no mapa. Não temos família, amigos, ou sequer colegas de escola, porque nunca tivemos oportunidade de frequentar uma. Gostamos de olhar para as estrelas à noite e de imaginar como será o Mundo fora da nossa casa. De dia, eu trato da agricultura, arranjo da melhor forma possível os buracos por onde a chuva entra e dou de comer ao nosso cavalo. E tu... tu deambulas junto ao rio, apanhas flores, fazes o almoço e o jantar, limpas a casa e falas-me acerca dos teus sonhos de ir para a cidade, de conhecer tudo. E como somos felizes assim...
Graças a ti, tenho tudo, mesmo sem ter nada. A nossa vida é simples e pode parecer vazia, mas o amor que transborda dos nossos corações preenche-a de uma forma mágica. E eu nunca quero deixar de viver assim.
Amo-te, Íris...
Não prometo nada, mas vou tentar.
ResponderEliminarOh, que doçura! Muito obrigada * Segui :)
ResponderEliminarobrigado
ResponderEliminarSigo (: