segunda-feira, 16 de julho de 2012

Ser tudo... Sem ter nada!


Era mendigo. Parecia não ter nada, não ser nada. Ao olhar para ele, tinha pena. Queria dar-lhe algo para comer, uma manta para se aconchegar nos dias mais frios do Inverno, uma palavra de conforto. Sempre que passava por ele e o via ali, no chão, junto ao mesmo banco desde há tanto tempo, crescia em mim um sentimento enorme de culpa, por desperdiçar comida ou por deitar roupa para o lixo, esquecendo-me de que ele, aquele pobre mendigo, usava as mesmas roupas todos os dias.
No sítio onde eu vivia, existiam muitos mendigos. Mas este mendigo eu admirava. Parecia diferente de todos os outros. Não pedia esmola, não tinha um cartaz a dizer que não comia há dias ou que precisava de dinheiro para sustentar os filhos. Este mendigo estava simplesmente parado, cantarolando canções de cor e salteado, de frente para trás, e de trás para a frente, como se tudo nele fosse música. E como cantava ele bem! A sua voz, rouca pelo vento que apanhava no gélido Outono, era melodiosa e aconchegadora e, sempre que passava naquela rua, fazia questão de abrandar os meus passos e apreciar um pouco do seu tímido espectáculo.
Penso que ele nunca deu pela minha presença, fechado para si próprio, da sua boca nunca ouvi uma palavra, a não ser das cantadas. Notava-se que gostava muito de se ouvir cantar, batendo palmas a si próprio no final de cada canção. Era um mendigo que não “era” um mendigo. Às vezes pensava, e ainda penso, que se algumas pessoas o ouvissem, esquecer-se-iam que ele vivia na rua ou, então, iriam deixar de excluir aqueles que não têm uma casa da sociedade.
Apesar de nunca ter falado com ele, sempre me orgulhei de o “conhecer”. E sabem porquê? Porque tenho a certeza de que irá ser um grande cantor. E que será o que este Mundo precisa para se lembrar dele e de tantos outros que, por não terem nada, são julgados como se não fossem ninguém e talvez sejam muito, como este mendigo.


11 comentários:

  1. que texto novo lindo, adorei!

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  2. e irei continuar, princesa! acredita que sim, e vi pelo twitter que ias escrever um livro.. parabéns :)

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  3. oh adorei *.*
    de certeza que esse mendigo também não se esquecerá da tua imagem*
    pode ser que o futuro lhe reserve boas surpresas*

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  4. desejo-te a maior sorte do mundo *.* eu não tive essa coragem!

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  5. eu não segui humanidades pelo medo do maior desemprego nessa área, mas também porque perfiro manter a escrita como um gosto ocasional. e só escrevo quando me aptece mesmo. quando me obrigam a isso bloqueio xb

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  6. muito obrigada :)
    eu não vou desistir ..
    sigo*

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