Sentei-me em cima de um rochedo e num acto de desespero, perguntei em voz alta porque estava eu, sozinha, naquele local e qual seria a saída. Depois de gritar tal pergunta, aguardei ouvindo o meu eco, mas nada aconteceu. Então decidi levantar-me e abrir uma porta ao acaso, que tinha a letra “E”… Abri-a e vi que do outro lado encontrava-se um palco gigante e que lá decorria um grande espectáculo de teatro. Então, com toda pressa, voltei a fechar a porta, com medo de ter sido vista e, ao pé do rochedo que falei, pensei no que havia de fazer.
Então abri a porta N, C, O, N, T, R, A, T, E… Em cada uma vi um local diferente, mas sempre algo que gosto ou que conheço: ao abrir a porta N vi um recital de ballet, ao abrir a C vi um lar de meninos de cor, ao abrir a O vi um castelo e ao longe uma princesa (…) na porta A, quando puxei pela maçaneta, vi um bar gigante, cheio de gente, que bebiam e fumava descontroladamente; na porta T vi um hospital e na E uma casa muito bonita, parecida com a minha antiga casa e lá estava uma família.
Pareciam ser todos muito unidos e falavam muito uns com os outros, riam, enquanto no sofá viam televisão. Não sei porquê, mas em vez de fechar a porta e continuar à descoberta naquela ilha, entrei. E percebi que era transparente, pois ninguém se manifestou por eu estar na sua casa, nem mesmo o cão que por lá se passeava. Ele não ladrou, o pai não me questionou e o papagaio que estava ao colo da menina não imitou as minhas palavras quando perguntei se me viam.
Percebi que todos os sítios, que todas as portas que abri, eram minimamente interessantes para mim, que tocavam no meu coração, talvez fossem sonhos por cima de sonhos, e talvez fosse por isso que os sonhava.
E agora que acordei e escrevi este texto, percebi que, sem querer, abri as portas que, todas juntas, e por ordem, dizem a palavra ENCONTRA-TE.
Sem comentários:
Enviar um comentário