terça-feira, 19 de julho de 2011

Mais um dia

Um dia deixei-me levar, não liguei ao que os outros me diziam ou me queriam avisar. Passou-me pela cabeça voar e gritar sem medo de ser calada. Nesse dia, andei nua pela rua, saltei um banco no jardim e assaltei um banco na praça. Nesse dia, cometi loucuras, comi com as mãos, escrevi com os pés, tomei o jantar e só depois o almoço, não lavei as mãos porque não tinha medo das bactérias e levantei-me às quatro da manhã para ir correr. Estava a chover, nesse dia. Então andava de vestido de alças e sapatos que, se fosse outro dia e não aquele, servir-me-iam na perfeição.
Mas, naquele dia, estava demasiado fora de mim para ouvir os trovões que pairavam no céu.
Nesse dia, não me importava de ir à Lua, porque sabia que era feita de queijo, e os lacticínios não me amedrontavam.
Naquele dia, não me importava de ir ao Sol, sabendo que estava imenso calor, pois na minha imaginação o Algarve era o sítio mais quente onde pudera estar.
Naquele dia, que não está assinalado como feriado ou um dia diferente de qualquer outro, eu fui outra pessoa. O meu pseudónimo andou à solta, fugiu da minha cabeça e encarnou o meu corpo.

Nesse dia, chamavam o meu nome, vezes e vezes e não olhava, Não olhava porque não podia ser eu, não podia ser eu, jamais cometeria tais loucuras, tais disparates, tão desafios (…) Nunca precisara de sentir-me tão selvagem, tão viva, tão livre.

Porquê agora? Era só mais um dia (…)



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