Quantas vezes já não te iludiste
na tua vida? Quantas vezes já não acreditaste que algo seria certo, que algo
nunca poderia falhar? Quantas vezes não juraste a pés juntos algo que mais
tarde esqueceste? Quantas vezes já disseste ser feliz, só porque estavas a
sorrir? Quantas vezes já não pediste desculpa sem te sentires arrependido?
Quantas vezes?
Porque é que a vida não é aquilo
que esperamos, aquilo por que lutamos? Porque é que as pessoas nos desiludem vezes
e vezes sem conta, nos partem o coração e voltam, um tanto ou quanto
envergonhadas, na esperança que as desculpemos só por, supostamente, não
conseguirmos viver sem elas?
Quantas vezes dissemos que sim, porque não queríamos que quem
estava connosco ouvisse um não?
Porque é que não somos simplesmente sinceros e agimos de forma transparente?
Porque é que não conseguimos exclusivamente desejar aquilo que podemos
alcançar? Porque é que acreditamos que conseguiremos mais do que aquilo que, à
partida, somos capazes?
Não seria tudo mais fácil se cada
um de nós não fingisse ser algo que não é? Que sabe que não é? Porque é que
tentam ser melhores, se esse esforço não é por vocês próprios, mas sim pelos
outros?
Todos nós devíamos ter orgulho
naquilo que somos, naquilo que fazemos. Devíamos sentir aquela sensação de
prazer superior ao anunciar o nosso nome em voz alta, para que todos soubessem
quem somos. Nada de vergonhas, nada de segredos. Somos como somos. E qual é o
problema de nos termos iludido? De termos achado que algo era certo, que nunca
falharia? De termos fracassado uma promessa? De termos fingido estar bem para
não pôr quem gosta de nós mal? De termos o braço a torcer para fazer as pazes?
Não mereceremos todos outra oportunidade?
Depois da primeira, da segunda, da centésima (…) Não teremos direito a
oportunidades até chegar o momento de nos despedirmos num suspiro silenciado
pela morte? Até lá… O que nos impede de sermos felizes? De cometermos todas as
loucuras que ansiamos, de tentarmos todas as vezes quantas as que acreditamos
aguentar o fracasso?
E se tivermos que dizer que sim,
mesmo que não queiramos? E se tivermos que cair mil vezes para percebermos de
que não somos, de facto, capazes de nos voltarmos a levantar?
Não estamos aqui? A viver a vida
que, no meio de um tremor de terra, vamos traçando? O lápis foge-nos a cada
abalo, e talvez hajam mais linhas tortas do que queríamos, mas a vida não
continua a ser nossa, a ser vivida por nós? Quantas vezes nos esquecemos disto
tudo? De sermos sinceros, de agirmos de forma transparente? De mostrarmos quem
somos, de marcar a diferença?
Quantas vezes?
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