quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

De costas para o Mundo

Dizem que não nos devemos virar de costas para o Mundo. Para além de ser má educação, é como que pedir a Deus para ser cego, surdo e mudo. É uma atitude vista como imatura, irresponsável até. Mas é a atitude que, consciente ou inconscientemente me vejo a ter tantas e tantas vezes sempre que, sem mais nem porquês, tudo aquilo que me rodeia parece ser triste demais para merecer a minha atenção. Às vezes nem é bem isto. Às vezes é só medo. Vergonha. Insegurança. Queria ficar ali e enfrentar tudo olhos nos olhos, entregar-me, render-me, ou até mesmo ripostar, mas falta-me a força nas pernas. Cedo. E uso as minhas últimas forças para virar as costas a tudo. Isolo-me. Esqueço-me. Esqueço tudo. Sou como que um momento no Mundo que, simplesmente, já passou. Ninguém me procura, ninguém corre atrás de mim como seria esperado para me implorar que fique. Por mais devagar que ande, por mais espectáculo que dê antes de virar as costas, não há ninguém que note a minha falta. Que precise da minha presença. É como se eu estar ou não, onde quer que seja, implique, para todos, absolutamente nada. Não há lágrimas, rezas, não oiço palmas ou palavras de conforto. Só sinto as minhas próprias lágrimas e só oiço a minha própria oração. Podia perder-me pelos sítios mais robustos que desconheço, sem bússola ou qualquer ideia de onde estava que, tenho a certeza, ninguém me iria salvar. Deixar-me-iam onde quer que pensassem que eu estava porque, afinal, é normal não me verem, certo? Eu desapareço à mínima coisa. À mínima dor. Ao mais ínfimo susto. Numa fração de segundo, aquilo que penso e sinto altera-se e aquilo que afirmei sendo certo, pode parecer-me agora o mais errado que já disse na minha vida. O meu sorriso morre. Os meus olhos tornam-se pesados. As minhas mãos procuram um sítio para se esconderem. A minha boca treme. Não me digam mais nada. Deixem-me ir. Deixem-me virar as costas ao Mundo. Agora. Só por mais uma vez.




7 comentários:

  1. Virar costas ao mundo, ainda que por vezes pareça a única saída, não é solução. Eu sei que por vezes é difícil arranjar forças e motivos para acordar de manha e acreditar que o nosso dia vai ser bom mas isolar-nos é dar-mos por vencidos sem sequer ter ido à luta. Eu sei que nem sempre apetece encarar as pessoas, a rotina, a própria vida mas enquanto te refugias numa realidade somente tua e distante de tudo e todos pode, de facto, haver alguém que sinta a tua falta, que grite pelo teu nome nas noites frias, que reze para que voltes, que te queira reconfortar com palavras de consolo ou bater palma pelas tuas conquistas mas que não sabe como o fazer. Não acredito que estejas sozinha neste mundo cruel e ordinário mas que apesar disso continua a ser o nosso mundo. Força :)

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  2. não tens de querer que te implorem para ficar, tens de querer ficar por ti. Foge sempre que precisares, esconde-te mas encontra nesses momentos a força que precisares para voltares, para voltares mais forte! Força, minha querida*

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  3. escrevi um comentário tãolindo, tão inspirado e isto não gravou. Agora já não vai sair tão bem.
    Mas vou mesmo comentar que me vejo neste texto, quantas vezes o pensei, senti, fiz e nunca o disse nem consegui dizer como tu o disseste aqui desta forma, única, tua, MAGISTRAL.
    Que prazer sinto por ter trabalhado contigo, por te conhecer, por te admirar e por te ter dado um pouco de mim. É por ti e outros como tu que eu cada vez mais gosto do que escolhi fazer e sinto orgulho na forma como o faço.
    Obrigada Kika não mudes nunca. da tua catarina R.

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  4. Adorei Francisca está de parabéns, és uma grande inspiração; http://umaadolescenteateenager.blogspot.pt/ obrigada

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    1. muito obrigada!! vou ler o teu blog e deixarei a minha opinião! um beijinho grande

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