terça-feira, 4 de setembro de 2012

Para sempre

Assim que acordo penso em ti, aliás, acordo de um sonho contigo. Passo os dedos pela minha pele porque até tu já o fizeste e, por mais fictício que seja, é como se te estivesse a tocar. Acordo a sorrir, e é a sorrir que abro a janela para ver como está o tempo. Pode estar um sol radioso ou um dia de chuva, para mim estará sempre um dia perfeito. Preparo o meu pequeno-almoço como se o estivesse a fazer para duas pessoas na esperança que tu sintas o cheiro a torradas com mel e queiras juntar-te a mim. Como devagar, observando a nossa casa: não muito arrumada, um tanto ou quanto confusa, demonstra o meu estado de espírito despreocupado e grita que precisa de ser limpa... Mas não hoje. Hoje é mais um dia para estar contigo e para te visitar. Não há nada que seja mais importante, por isso dispo-me e meto-me no banho a trautear a nossa música e pensar no que vestir para te agradar desta vez. Ao passar as minhas mãos pelo meu corpo imagino como seria se fosses tu a fazê-lo e cresce em mim um desejo que me percorre a espinha e me obriga a pensar noutras coisas. Desligo a água devagar, relembrando-me de como adoro o cheiro do teu cabelo molhado, e agarro na toalha que antes usaste para envolver o meu corpo ainda suado pelos pensamentos mais quentes. Enquanto escolho a roupa imagino o teu sorriso ao ver-me chegar e a forma envergonhada como dirás que estou linda... Talvez pareça uma doida, mas agarro-me ao meu peluche preferido e deslizo com ele pelo meu quarto depois de ligar o rádio, e sonho: sonho que aquele peluche és tu e que estamos os dois num palácio lindíssimo a dançar aquela música contagiante, onde tu me guias e eu encosto o meu rosto ao teu ombro, numa das muitas noites sem fim. E como me riu no final de tudo isto. Acabo de me vestir e olho-me ao espelho. Suspiro. E volto a sorrir. Sou tão feliz assim.
Agarro na carteira e no telemóvel, enfio tudo com pressa na mala e corro até à paragem na pressa de apanhar o autocarro e quando quase o vejo ir embora corro que nem uma desenfreada para o apanhar e, assim que entro, percebo que já não tenho lugar sentada e é em pé que observo toda gente que vai para o mesmo sítio que eu. E como todos são tão diferentes. Uns sorriem, outros nem por isso. Cada um tem o seu estilo e personalidade, mas a maioria não parece querer estar ali, parecem estar a seguir aquele caminho "só porque sim", como se fosse uma obrigação. Mas eu não. 
Eu vou visitar-te porque te amo de uma maneira que não há maneira de explicar e, por mais longe que estejas, vais estar sempre perto o suficiente para aquilo que sinto não morrer, mesmo depois de tu já teres abandonado tudo isto... O autocarro pára e todos caminham lentamente até às portas, como se quisessem atrasar o motivo pelo qual vieram. Eu, ao contrário deles, ando ainda mais depressa. Entro no cemitério e assim que te vejo, ajoelho-me junto à tua campa e digo-te olá com o meu sorriso que acordou comigo. Conto-te a minha manhã e os meus planos para quando chegar junto a ti: falo-te do palácio onde iremos dançar e das torradas com mel que nunca deixarei de preparar para nós, bem como de como a nossa casa nunca ficará arrumada. Abro a minha mala e tiro uma flor de plástico pequenina, mas linda como tu, e encosto-a junto à tua campa: porquê? Porquê ela nunca morrerá e, quando eu chegar ao céu, e a minha campa estiver junto à tua, passará a ser a nossa flor, para sempre.


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