quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

"(...) Que aconchega o coração e a alma (...)"

Eu sabia que um dia as coisas iam voltar a ser o que eram. Sabia que, no lugar das lágrimas, ao invés da tristeza, estariam, de novo, dois sorrisos, duas solidões a protegerem-se uma à outra. Sabia que íamos pedir desculpa, e estar mesmo arrependidos, e sabia que isso não tardaria a acontecer, porque quando se gosta de alguém, cada dia longe dessa pessoa torna-se mais doloroso do que qualquer outro. Sabia que isso não tardaria a acontecer porque a tua ausência provocava em mim um vazio parecido à morte, e eu não queria morrer. Tinha noção de tudo isto. De que bastava umas palavras, uns gestos. Bastava ser sincera, deixar-me "cair", para que visses que contigo sinto-me erguida, mais forte. Às vezes, agora que penso, nem pedias nada de tão especial, que fosse motivo para tanta hesitação... Tenho pena que a vida não nos permita fazer uma pausa, como que um stop para que, estando o Mundo parado, possamos ver o que está realmente a acontecer à nossa volta e tomar, provavelmente, decisões mais acertadas. Tenho pena, também, que tenha sido necessário estarmos afastados tanto tempo para percebermos que só somos felizes juntos. Mas que alegria é, por outro lado, ter percebido isso! Ser um só com alguém, não fisicamente, mas espiritualmente, é, sem dúvida, um desafio que quando superado nos faz refletir sobre o facto de, toda a felicidade que havíamos sentido antes, não ter passado de uma meras alegrias... Porque agora, agora sendo um só, agora partilhando tudo, e estando juntos com alguém na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, agora sim é ser-se feliz. Não digo, até porque não acho, que seja impossível ser-se igualmente concretizado sem ninguém que nos acarinhe, que nos dê aquilo que em nós próprios tantas vezes não encontramos. Mas é diferente... É como que pedir a um barco que pare não sei onde, e espere não sei o quê, de talvez um não sei quem. Quando se ama, e quando o outro nos ama, daquela forma que nos aconchega o coração e a alma, como quem aperta sem apertar, quando se está assim... Quando se está assim tudo vale a pena! A vida vale a pena!
Amar é também saber pedir desculpa, e pedir que volte. Que volte, e que volte sem rancores, sem dores, sem fantasmas. Que volte e que tentemos de novo. Tentemos tantas vezes quantas as que acharmos conseguir suportar o falhanço que, inevitavelmente, poderá acabar por ser. Que tentemos, porque estamos juntos. E tentar estar com quem amamos não é, nem nunca será, uma loucura, um ato reprovável. Se for, que seja: sou louca, erro a toda hora. Mas sou feliz, e nem a loucura, nem a insanidade me farão deixar de acreditar que o que faço é viver.




3 comentários:

  1. Gostei muito. Tens o dom de conseguires passar para as palavras o teu coração, como se de uma pena se tratasse! Continua e sê feliz! Ah! Ama! Vive!!

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  2. Gostei muito Francisca, quem ama entende muito bem aquilo que escreveste, quem não ama, percebe pelas tuas palavras aquilo que lhe falta. Que dom que tens! Como é que com a tua idade consegues saber tantas coisas???

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