quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Olhando para o tecto

Hoje dei comigo a rir-me a olhar para o tecto. Ao inicio, fiquei a pensar “estou doida, só pode” e só depois me apercebi o porquê de me estar a rir. Pela primeira vez em quase dois anos, eu não estava triste, não estava pensar em nada, a minha cabeça estava vazia. No tecto não estava escrita nenhuma piada nem desenhada nenhuma figura engraçada, mas eu estava a rir-me imenso. No espaço de dois anos, eu tinha sido feliz, mas nunca me tinha esquecido de coisas tristes, que me magoavam muito e depois, quando estava sozinha no meu quarto, a olhar para o tecto, habitualmente chorava. Porque pensava em tudo e as coisas vinham à cabeça, ao coração, aos olhos.
Mas hoje não. Hoje estava deitada na cama, sozinha, a olhar para o tecto e não chorava. Na realidade, estava muito contente e nem sabia porquê. Só sei que na altura tentei pensar e, não vinha nada… Só me conseguia lembrar da minha infância, de a Francisca pequenina a saltar do baloiço e a gritar “sou melhor que tu, toma, toma, toma!” enquanto brincava com as outras crianças. Só me conseguia lembrar de no sexto andar aos pulos depois de ter um noventa e tal a matemática, algo raro, visto a minha divergência com a disciplina. Só me conseguia lembrar do Natal em casa dos meus avós, a abrir todas aquelas bonecas. Da Páscoa, ao colo do meu pai, a dar festinhas na curta barca que lhe envolvia a cara e… Nada mais.
Não havia tristeza. Não existiam desilusões, traições, rancores. Não estava cansada, angustiada. Não tinha problemas, preocupações. Estava sozinha e gostava, não era solidão. Não estava apaixonada, nada me podia correr mal, e se corresse, eu não me importava.
Não havia soluços, lágrimas. Não havia “aquele ano em que sofri”, “aquele dia em que me apetecia fugir”, não. Era só eu, deitada na cama, a rir-me sozinha.
E sabem? Estava tão feliz.

1 comentário:

  1. Adoro!
    E sabes que mais? Tu tens mais força do que pensas. Adoro-te Cisca.

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